domingo, 28 de dezembro de 2014

O Grande Silêncio

O filme tem cerca de dez anos, mas só há poucos meses o vi. Agradeço a quem me enviou a "ligação", pois pelos meus próprios meios nunca o teria descoberto e perderia uma poesia.

Uma poesia é a expressão que encontro para definir o filme O grande silêncioda autoria de Philipe Gröning.

Este documentarista alemão, que estudou Psicologia e Medicina antes de se ter dedicado ao cinema, num certo dia, terá reunido toda a sua coragem e dirigiu-se a um mosteiro da Ordem da Catuja, pedia autorização para filmar o austero quotidiano dos monges. Alguns anos depois, parece que uns dezasseis, recebeu a resposta: poderia fazer o seu trabalho mas na condição de captar o que via e ouvia, sem artíficios. Mudou-se, então, para o Mosteiro - de La Grande Chartreuse que fica nos Alpes franceses - e viveu lá seis meses.

O que captou foi predominantemente o silêncio. É nesse silêncio que se ouve uma grande tesoura cortar pano, água a correr numa pia de cozinha, lenha a ser cortada, cabelo a ser rapado, caules de couve a serem partidas, rodas de um carro que transporta comida a deslizarem nas lages, postigos a serem entreabertos, dedos a seguir páginas, passos vagarosos, poucos múrmúrios, alguns risos... o toque muito cristalino do sino, e o canto gregoriano. Ouvimos, no filme, os sons que já não somos capazes de ouvir nos nossos tão sobrecarregados dias.

2 comentários:

Carlos Pires disse...

Bom texto. Obrigado. Fiquei com vontade de ver o filme.
É curioso que os monges consigam essa vida "sem artíficios" à custa de tantos artíficios, pois a vida que vivem é tudo menos "natural". Por exemplo: ouvem a água a cair e a tesoura a cortar, mas não "ouvem" o seu corpo.

Helena Damião disse...

Caro Carlos Pires
Não pensei nisso. Sendo este um filme que se vê e se revê, na revisão que farei terei em conta a sua nota. Obrigada.
MHD

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...